Esse século, por direito, pode ser chamado o século das revoluções, porque nenhum - até agora - foi tão fértil em levantes, insurreições, guerras civis, ora vitoriosas, ora esmagadas. Essas revoluções têm como ponto comum o fato de serem quase todas dirigidas contra a ordem estabelecida (...), quase todas feitas em favor da liberdade da democracia política ou social, da independência ou unidade nacionais.**
No século XIX as (...) lições sagradas do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na sua magnanimidade, repartiria o pão sagrado da esperança e da crença com todos os corações.***
Para Emmanuel, o (...) campo da Filosofia não escapou a essa torrente renovadora. Aliando-se às ciências da alma o ascendente dos dogmas absurdas da Igreja. As confissões cristãs, atormentadas e divididas, viviam nos seus templos um combate de morte. Longe de exemplificarem aquela fraternidade do Divino Mestre, entregavam-se a todos os excessos do espírito de seita. A Filosofia recolheu-se, então, no seu negativismo transcendente, aplicando às suas manifestações os mesmos princípios da ciência racional e materialista. Schoupenhauer (1788 - 1860) é uma demonstração eloquente do seu pessimismo e as teorias de Spencer (1820 - 1903) e de Comte (1798 - 1857) esclarecem as nossas assertivas, não obstante a sinceridade com que foram lançadas no vasto campo das idéias.(1) De acordo com o Positivismo de Auguste Comte, a humanidade ultrapassou o estado teológico e o estado metafísico ao penetrar o estado positivo, caracterizado pelo sucesso dos conhecimentos positivos, fundados numa certeza racional e científica. Tais idéias conduzem aos exageros do cientificismo, em que a fé na Ciência se torna a verdadeira fé. Acredita-se que ela vá esolver todos os problemas, elucidar todos os mistérios do mundo; tornar inúteis a religião e a metafísica. Este entusiasmo é revelado na conhecida obra literária de Renan: L ' Avenir de la Science (O Futuro da Ciência) (2).
Em relação às idéias anarquistas e às ideologias socialistas da sociedade da época, essas concepções ainda repercutem nos dias atuais. O Anarquismo, como sabemos, representa um conjunto de doutrinas que preconizam a organização da sociedade sem nenhuma forma de autoridade imposta. Considera o Estado uma força coercitiva que impede os indivíduos de usufruir liberdade plena. A concepção moderna de anarquismo nasce com a Revolução Industrial e com a Revolução Francesa. (...) Essas idéias resultaram no surgimento do Marxismo, que, de socialismo científico, transforma-se em crítico do regime capitalista, tendo como base o materialismo histórico (3). Assim, em 1848, o Manifesto do Partido Comunista, de autoria dos alemães Karl Marx (1818 - 1883) e Friedrich Engels (1820 - 1895), afirma que o comunismo seria a etapa final da organização político-econômica humana. A sociedade viveria em um coletivismo, sem divisão de classes e sem a presença de um Estado coercitivo. Para chegar ao Comunismo, os marxistas prevêem um estágio intermediário de organização, o Socialismo, que instauraria uma ditadura do proletariado para garantir a transição.
Esses movimentos políticos também confrontam as práticas religiosas conduzidas pela Igreja Católica que, desviada dos princípios morais do estabelecimento de um império espiritual no coração dos homens, aproxima-se em demasia das necessidades políticas da nobreza reinante na Europa. Essa aproximação com o poder real trouxe consequências desastrosas, abrindo espaço a discussões sobre o papel desempenhado pela Igreja em particular, e pela religião, considerada como sinônimo de movimento religioso de igreja - católica ou reforma -, equívoco que ainda norteia o pensamento religioso da maioria dos europeus dos dias atuais. Nesse contexto, surge o Catolicismo Social, movimento criado por Lamennais, que buscava um ideal de caridade e de justiça, conforme os ensinos do Evangelho.Lamennais rompe com a Igreja e se torna abertamente socialista. Lacordaire e Mont'Alembert se submetem sem abandonar a ação generosa (caridade e justiça) (4). A fragilidade demonstrada pela Igreja Católica, frente aos contumazes ataques que recebia, abriu espaço à expansão das doutrinas divulgadas pelas igrejas reformadas. Na verdade, a propagação do Protestantismo na Europa e na América - da mesma forma que a multiplicidade de interpretações doutrinárias surgidas ao longo de sua evolução histórica -, estava ocorrendo desde o século XVI.Os questionamentos levantados sobre o papel da religião, num período em que a sociedade estava submetida a um racionalismo dominante, conduziram teólogos e intelectuais protestantes do século XIX a um reexame dos textos bíblicos, e até a um estudo crítico da razão de ser do Cristianismo. Nasciam, a partir daquele momento histórico, as teorias sobre a salvação pela fé, dogma considerado imprescindível à experiência religiosa de cada pessoa e à necessidade social que o homem tem de crer em Deus e de senti-lo.
No campo das Ciências, as mudanças foram significativas, fundamentais ao progresso científico e tecnológico dos dias futuros: a descoberta do planeta Netuno por Leverrier; os trabalhos de Louis Pasteur sobre microbiologia; os estudos de Pierre e Marie Curie no campo das energias emitidas pelo rádio, e a teoria da origem e evolução das espécies, de Charles Darwin. O surgimento da máquina a vapor revoluciona os meios de transportes. O desenvolvimento da máquina a vapor revoluciona os meios de transportes. O desenvolvimento da indústria e sua concentração progressiva levam a um aumento considerável do proletariado urbano e da acuidade das questões sociais. O movimento industrial necessita de operações bancárias e permite a edificação de novas fortunas. A burguesia rica acelera sua ascensão e torna-se a classe dominante, força política e social. O dinheiro é tema literário e primeiro plano, co cuja inspração os autores pintam a insolência de seus privilegiados ou a miséria de suas vítimas (5). Em (...) confronto com todas as épocas precedentes, o período que vai de 1830 a 1914 assinala o apogeu do progresso científico. A conquistas desse período não só foram mais numerosas mas também devassaram mais profundamente os segredos das coisas e revelaram a natureza do mundo e do homem, projetando sobre ela uma luz até então insuspeitada (...). O fenomenal progresso científico desa época resultou de vários fatores. Deveu-se, até certo ponto, ao estímulo da Revolução Industrial, à elevação do padrão de vida e ao desejo de conforto e prazer (6).
Todavia, é importante assinalar que uma revolução diferente marcou, também, esse período. Falamos da revolução moral, proposta pelo Espiritismo nascente: O século XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do mundo, encaminhando todos os países para as reformas úteis e preciosas. As lições sagradas do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na sua magnanimidade, repartiria o pão sagrado da esperança e da crença com todos os corações. Allan Kardec, todavia, na sua missão de esclarecimento e consolação, fazia-se acompanhar de uma plêiade de companheiros e colaboradores, cuja ação regeneradora não se manifestaria tão-somente nos problemas de ordem doutrinária, mas em todos os departamentos da atividade intelectual do século XIX (7).
MEUS COMENTÁRIOS PESSOAIS:
A importância de compreendermos a parte histórica do século XIX que ocasionou o surgimento da Doutrina Espírita.
O livro Estudo Sistematizao da Doutrina Espírita, Programa Fundamental Tomo I, pela Federação Espírita Brasileira (FEB), afirma que o século XIX representou uma dessas épocas em que fomos especialmente abençoados pela bondade superior, a despeito de todas as dificuldades assinaladas nesse período. Além das enormes contribuições culturais recebidas, fomos imensamente distinguidos pelo advento do Espiritismo, materializado no mundo físico pelo trabalho inestimável do professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail que, ao codificar a Doutrina Espírita, adotou o pseudônimo de Allan Kardec.
É o século que dá início aos grandes movimentos revolucionários europeus que derrubaram o absolutismo, implantaram a economia liberal e extinguiram o antigo sistema colonial, movimentos esses apoiados nas idéias renovadoras da Filosofia e da Ciência, divulgadas no século XVIII por Espíritos reformadores, denominados iluministas e enciclopedistas. Tais idéias, de acordo com o Espírito Emmanuel, constituíram a base para que fossem combatidos, no século XIX, os (...) erros da sociedade e da política, fazendo soçobrar os princípios do direito divino em nome do qual se cometia todas as barbaridades. Enfatiza ainda Emmanuel que (...) foi dos sacrifícios desses corações generosos que se fez a fagulha divina dopensamento e da liberdade, substância de todas as conquistas sociais de que se orgulham os povos modernos. (Do livro A Caminho da Luz, Cap. 21, Pág.185, Psicografia de Francisco Cândido Xavier)
FONTE: * PELO ESPÍRITO EMMANUEL, DO LIVRO A CAMINHO DA LUZ, CAP. 23, PSICOGRAFIA DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
** RENÉ RÉMOND: O SÉCULO 19 - INTRODUÇÃO.
*** PELO ESPÍRITO EMMANUEL, DO LIVRO A CAMINHO DA LUZ, CAP. 23, PSICOGRAFIA DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
(1) PELO ESPÍRITO EMMANUEL, DO LIVRO A CAMINHO DA LUZ, (AS CIÊNCIAS SOCIAIS), PÁG. 198-199, PSICOGRAFIA DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
(2) ANDRÉ LAGARDE et LAURENT MICHARD. XIX SIÈCLE. LES GRANS AUTEURS FRANÇAIS DU PROGRAMME. PARIS: BORDAS, 1964. INTRODUCTION (LE PROGRÈS SCIENTIFIQUE ET INDUSTRIEL), VOL. 9.
(3) -. _____________________________________(LE MOUVEMENTE DÉMOCRATIQUE), VOL. 5,P.7-8.
(4) - ______________________________________(LE SOCIALISME), P.8.
(5) - ______________________________________(LE PROGRES SCIENTIFIQUE ET INDUSRIEL), P.9.
(6) - EDWARD MCNALL BURNRS, HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL, P. 792.
(7) - PELO ESPÍRITO EMMANUEL, DO LIVRO A CAMINHO DA LUZ, PÁG. 197, PSICOGRAFIA DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA (FEB), ESTUDO SISTEMATIZADO DA DOUTRINA ESPÍRITA PROGRAMA FUNDAMENTAL TOMO I.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, ALLAN KARDEC. TRADUÇÃO DE GUILLON RIBEIRO. FEB - FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA.