domingo, 15 de março de 2015

NOSSOS FILHOS SÃO ESPÍRITOS.


Seja qual for, a grandeza e a experiência ou maturidade do espírito que vem renascer junto de nós, precisará sempre de apoio no período com que está promovendo os necessários ajustes no novo corpo que recebeu dos pais para viver na Terra O ser humano tem uma longa infância, a maior de todos os animais. Um cachorro, com três anos, é adulto, tanto quanto um boi ou um cavalo. Os pássaros precisam apenas de umas poucas semana; os insetos, de horas, ou, no máximo, de poucos dias. O ser humano com sete anos ainda é um infante indefeso que não tem nem como alimentar-se adequadamente se for abandonado aos seus próprios recursos. Com a crescente exigência de formação cultural para enfrentar os desafios da competição numa sociedade em crescente grau de sofisticação, ele, ou ela, somente estará pronto para o trabalho, em pé de igualdade com seus semelhantes, ao se aproximar dos 30 anos, ou além.

Enquanto isso ocorre, há toda uma estrutura de apoio, uma logística de desenvolvimento fisico, moral, psicológico, cultural e social. A criança, mesmo genial, precisa ser orientada, encaminhada e corrigida em suas tendências de agressividade, por exemplo, ou de desleixo, preguiça e indiferença, tanto quanto estimulada a desenvolver faculdades incipientes que não exigem grande esforço de observação para serem identificadas. Os pais precisam estar atentos, observando com serenidade e, tanto quanto possível, sem que a criança se sinta estudada, pesquisada e vigiada como um bacilo ou cobaia de laboratório. O instrumento preferencial para essa busca é a conversa, a comunicação. Por isso recomendamos, logo de início, conversar com os bebês, mesmo na fase em que não têm condições para nos responderem da maneira que gostaríamos, ou seja, também conversando conosco. Pelo menos estarão sabendo o que pensamos a respeito deles e do mundo que nos cerca. Mais do que isso, porém, estaremos abrindo canais de comunicação com eles, tendo acesso ao pequeno cosmos individual que cada um de nós traz consigo.

 A criança não é dotada de toda essa plasticidade que se proclama por aí, barro macio da qual podemos fazer aquilo que desejarmos. Há quem costume dizer que "é de pequeno que se torce o pepino". Mas não é bem assim que funcionam as coisas. Isso não quer dizer; contudo, que a criança deva ser abandonada às suas inclinações, quaisquer que sejam, ou, ao reverso, oprimidas ao ponto de ficarem sem espaço para movimentação de sua personalidade.


É claro que espíritos rebeldes, agressivos, dados à violência ou à crueldade, precisam ser reorientados através de um regime disciplinar sem exageradas severidades, mas firme. Fazer-lhes todas as vontades, realizar-lhes todos os caprichos e fantasias, achar uma gracinha todas as suas demonstrações de falta de civilidade corresponde a um processo de deseducação que irá contribuir para que se consolidem tendências negativas já em si mesmas de difícil erradicação.

É lenta, sem dúvida, nossa caminhada evolutiva, e embora o espírito não regrida, como nos ensinam os que sabem de tais coisas, podemos ter recaídas, quando as conquistas espirituais ainda não estão bem consolidadas. Com o que voltamos a cometer o mesmo tipo de equívoco, do qual ja de há muito poderíamos estar livres se exercêssemos um pouco mais de autodisciplina.

Não digo, pois, que "é de pequeno que se torce o pepino", nem que "pau que nasce torto nunca endireita". Nada disso! Não é preciso torcer o pepino, basta regá-lo com o orvalho de nosso afeto, evitando que predadores ou pragas o ataquem. Não há, porém, a melhor dúvida de que, se temos em relação aos filhos uma grave responsabilidade, cabe-nos uma quota correspondente de autoridade. Essa autoridade deve e precisa ser exercida, com amor mas, também, com firmeza, sem berros e pancadarias, mas sem tibiezas. Há o momento do - Não! Tanto quanto o do - Sim.

Estranho como pareça, é comum ouvirmos filhos adultos manifestarem seu reconhecimento pelo regime disciplinar a que foram submetidos na infância. E não raro lamentarem a fraqueza dos pais ante suas turbulências ou o desinteresse deles em dar combate às tendências negativas de caráter dos filhos. Não é fazendo todas as suas vontades que estaremos demonstrando nosso amor por nossos filhos. Pode haver perfeito equilíbrio entre respeito e descontração entre liberdade e disciplina, entre amor e autoridade.

Estaremos, assim, ajudando-os  a desenvolver suas potencialidades, de vez que para isso foram eles programados pela mãe natureza. Quanto ao pau torto... também precisa de apoio e compreensão. Um dia ele perceberá, pela sombra que projeta no chão, que é feio ser torto. Por isso, da próxima vez que ele "reencarnar-se", através de uma de suas sementes ou mudas, ele próprio vai cuidar de crescer reto e elegante, na direção do céu azul, como toda árvore que se preza.

Deus nos deseja purificados e redimidos, mas não nos atropela, nem exerce sobre nós qualquer pressão insuportável ou deformadora. Prefere que cresçamos, física e espiritualmente, segundo nosso próprio ritmo pessoal, dentro de um esquema em que o máximo possível de espaço nos é concedido pra fazê-lo. Certamente, a disciplina é ingrediente indispensável à receita de viver. 

Em suma, não se torce o pepino, ele deve ser cultivado.


FONTE: HERMÍNIO C. MIRANDA, DO LIVRO NOSSOS FILHOS SÃO ESPÍRITOS, CAP. 22 - NÃO É PRECISO "TORCER O PEPINO".






























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